Caro cidadão, sinto-me indignado com a situação de miséria
moral e social que acomete a nação brasileira. Eu ainda era criança quando ouvi
falar que o Brasil era o país do futuro. Acreditei nisso e cresci com a
esperança de fazer alguma coisa grande por mim mesmo e pelos outros. Estudei,
trabalhei, sofri durante todos esses anos como qualquer um. E compreendi, afinal,
que esse é o pais da mentira. Os políticos mentem e nós acreditamos; ou fazemos
de conta que acreditamos.
Ao longo de toda minha vida percebi nos discursos das pessoas
que se sucederam no poder uma grande e igual demagogia. Posso dizer sem medo de
errar que toda essa gente estava mascarada e fazia discursos eloquentes e, muitas vezes
paternalista para serem veiculados na imprensa enquanto que por
detrás das câmeras apertavam ainda mais a corda em nosso pescoço.
Quantas vezes já ouvimos: tudo pelo social? A inflação está
sob controle? Os preços dos alimentos estão caindo? Estamos trabalhando para
dar ao povo brasileiro mais saúde, mais educação e mais segurança? Com o petróleo o
Brasil vai se tornar uma grande potência econômica? Somos o celeiro do mundo? O
número de pobres diminuiu, a classe média cresceu? E coisas assim? Tudo mentira. Continuamos na mesma...
Agora inventaram os BRT´s,
as UPP´s, as UPA’s, o mais médicos, os embargos infringentes...
Tudo isso faz parte de um enorme cenário de teatro onde o
governo com seus agentes e aparelhos são os atores. A plateia, é a população
dividida entre perplexa e extasiada com a cara de pau dessa gente que concentra
em suas mãos o poder político e econômico usando-os para construir feudos
territoriais e financeiros, fortalezas legais e inexpugnáveis de onde articulam
e comandam ações contra o patrimônio público.
Tudo que digo está fartamente noticiado nos jornais e
revistas. Senão, vejamos: hoje podemos comprar uma garrafa de óleo de soja ou um
quilo de feijão, ou uma calça jeans, ou um sapato com o mesmo dinheiro que
comprávamos a cinco anos atrás? Claro que não. E o reajuste nos preços desses
produtos acompanhou o reajuste dos salários? As pessoas estão menos pobres
hoje, estão comendo melhor, vivendo melhor ou precisam trabalhar mais para
pagar as contas? E as passagens dos transportes? Estão acessíveis? E quanto à
segurança pública? Estamos melhor hoje? Podemos confiar na policia, na justiça,
nos órgãos do Estado brasileiro? E a educação? Com todos esses recursos
tecnológicos as crianças não deveriam ter melhor desempenho na escola? Por que
isso não acontece? Será que a educação tem mesmo alguma qualidade? Então, por quê está entre as piores do mundo? E a saúde? Se ficarmos doentes encontraremos socorro
médico de qualidade perto de casa? Se precisarmos de uma tomografia ou de uma
ressonância magnética conseguiremos fazer o exame antes que seja tarde? Como
andam as emergências dos hospitais públicos? Tem remédios? Tem gaze? Tem
esparadrapos? Tem higiene suficiente para evitar contaminações? É tudo mentira.
A saúde, a educação e a segurança são um caos total. E não é
com MAIS MÉDICO, com privatização de hospitais e escolas, com UPP's que vamos solucionar essas
questões. É preciso ação de governo, inserção do Estado na sociedade, melhoria
das condições sociais de todos para produzir algum fruto consistente. Menos que isso, é só discurso, retórica! Mentira!
O Estado brasileiro acabou com a saúde pública para
beneficiar os donos de planos de saúde assim como quer acabar com a previdência
social, que virou um saco sem fundo de tanta corrupção, para beneficiar os
banqueiros. E quem se beneficia com tudo isso? Os agentes do Estado e seus comparsas;
pois uns recebem “bônus” para serem usados nas campanhas eleitorais com a
finalidade de se manterem no poder e movimentar a máquina da corrupção. Ou
outros recebem os benefícios fiscais, os empréstimos oficiais, os perdões das dívidas, as
licitações, as concessões dos serviços públicos...
É por isso que digo que o Brasil é o país da mentira.
Em junho desse ano o povo foi para as ruas protestar, exigir
direitos. O governo ao ver tão grandes manifestações, infiltrou seus agentes para
fazerem badernas e provocarem tumultos com a única finalidade de criar condições para uma repressão legal. As tropas foram posicionadas em frente ao povo como
um dragão diante de um pintinho. Sabemos que é grande o poder do Estado
brasileiro e sua ferocidade intimidou a população civil fazendo o movimento
encolher. Mas a lição foi dada: O GIGANTE PODE SER ACORDADO! Depois de vários atos repressivos,
arrogantes e tresloucados o governo vem a público dizer que está ouvindo e
atendendo as vozes das ruas. É mais uma mentira. Estão com medo das urnas
eleitorais em 2014 e procuram maquiar suas ações e disfarçar seus movimentos
para nos enganar novamente.
Tudo que nossos políticos falam, com raras exceções, é
mentira. Matam nossas chances de crescer como povo, como nação soberana por
causa de interesses pessoais e corporativos.
Quantos de nós conseguem ficar ricos depois de vinte, trinta,
quarenta anos de trabalho? Mas, alguns deles tornam-se milionários, até
bilionários em poucos anos. Eles, suas famílias, seus amigos enriquecem com o
suor dos nossos rostos, roubando o dinheiro que deveria ser empregado na saúde,
na educação, na segurança pública, no saneamento básico na melhoria da
qualidade de vida das cidades. É assim que enriquecem: como o dinheiro dos
impostos que pagamos. Depois dão migalhas em forma de
auxílio.
O brasileiro não precisa de esmola, precisa de justiça social e
justiça efetiva. Nós cidadãos brasileiros queremos ser respeitados como pessoas dignas que
somos. Já estamos fartos de sermos tratados como a escarradeira do mundo, capacho
dos povos ricos, escravos de uma “elite” maligna que nos governa desde sempre.
Queremos dar nosso grito de independência! Afinal, somos ou não somos uma
democracia?
Eles têm tanta certeza da impunidade e da nossa passividade
que mudam as leis e os juízes a seu bel-prazer. Os pedágios são uma
indignidade. Ferem nosso direito de ir e vir; mas estão por toda parte. Os
pardais são uma aberração legal que se transformaram em fonte inesgotável de
recursos para os cofres públicos. E não digam que é para disciplinar o
trânsito! Morrem mais de cinquenta mil pessoas em acidentes de transito no
Brasil a cada ano; e ninguém faz nada. E o maior responsável é o Estado
brasileiro que não cuida das estradas. A má sinalização, os buracos, o traçado são
os maiores vilões nesses acidentes. A imprudência potencializa, é claro. Qual a
solução? Simples: recuperar a malha viária e construir ferrovias nos grandes centros
interligando regiões de considerável fluxo de pessoas ou cargas. Ninguém pensou
nisso? É claro que sim. Mas não interessa fazer porque os grandes empresários do
transporte não querem; e o Estado brasileiro, conivente e parceiro da corrupção
não está pronto para perder as propinas vultosas. O que faz, então? Entrega as rodovias nas mãos desses grandes grupos que nem sempre fazem as obras necessárias e, no entanto, cobram altíssimos
pedágios. Com isso o governo se exime das responsabilidades e agrada aos três
lados (o povo crédulo também fica satisfeito). Aliás, ultimamente o Estado brasileiro
vem trabalhando para entregar à iniciativa privada todos os setores que são sua
obrigação constitucional cuidar: começou com as companhias de energia elétrica,
passou para as estradas, as barcas, as pontes, os aeroportos, os portos, a
saúde, a educação superior e por ai vai. Qualquer dia vão privatizar a
educação de base e a segurança pública. Então para que precisamos do ESTADO?
Somente para nos roubar? Somente para recolher impostos? O Estado foi criado para trabalhar em lugar do cidadão, da sociedade civil.
Estou completamente desiludido. Até gostaria de acreditar em
alguns desses homens e mulheres que se colocam diante das câmeras de TV nos dias
atuais. Mas está difícil.
Essa gente tem o poder político nas mãos, mas não têm
autoridade moral para nos representar, para legislar em nome do povo
brasileiro, para governar esta tão grande nação, para falar em nome de qualquer
de nós. Tudo o que dizem são mentiras, engano. Usam máscaras para que não
percebamos sua verdadeira face. São aves de rapina que pilham a vida de todos
nós ano após ano, sem se importarem com nossa sorte, com nosso sofrimento. Tudo
o que querem é lucro financeiro e status. Como se isso fosse mais importante
que a vida humana. Não se dão conta de que nenhum mérito há em governar
miseráveis. A grandeza está em liderar iguais.
Perdoem-me, os dignos que ainda restam. Sei que ainda existem políticos sérios, idôneos no meio dessa
quadrilha de apátridas que articuladamente estendeu seus tentáculos por todo o
território brasileiro. É dessas poucas pessoas idôneas que espero alguma reflexão. Esperança
concreta mesmo, só em Deus. Esse não mente nunca.
País rico é país sem valas negras, sem esgoto a céu aberto, com moradias dignas, com crianças de futuro, com idosos assistidos em suas necessidades, com trabalhadores dignamente recompensados por seu trabalho, com escolas decentes e educação de qualidade, com justiça imparcial, com governo democrático e com governantes e homens públicos honestos.
É isso o que temos hoje?
Então é tudo mentira. Esse é realmente o país da mentira.
Eu sinto muito que seja assim. Sinto-me envergonhado de ser governado por essa gente sem caráter.