O QUARTO PODER DA REPÚBLICA



Não sei bem como denominar esse estado de lassidão em que vivemos hoje.
“Tudo está bom, não importa o quanto seja ruim. Tudo vai melhorar, não importa o quanto tenhamos de sofrer. Nada disso vai mudar, é melhor deixarmos assim mesmo. Podem roubar desde que façam alguma coisa para o povo. E por aí vai”.
Estou incomodado. Sinto-me caminhando sem destino em meio a uma multidão de perdidos. O brasileiro está perdendo a noção de dignidade, de idoneidade, de cidadania. Os pais já não pensam em construir no filho um caráter que reflita os valores morais, cívicos e religiosos que serviram para nos conduzir até pouco tempo atrás. Pensam em ensinar aos filhos como levar vantagem e sobrepor-se aos demais, não importando os meios. Os filhos querem apenas não ter a vida difícil dos pais nem que para isso seja preciso cometer ilícitos. A família não é mais a base da sociedade. Essa base hoje é o grupo de pessoas que têm interesses e métodos afins.
É melhor ser igual a todo mundo do que, sendo diferente, correr o risco de ser miserável! E, ser igual à maioria significa ser venal. Essa é a imagem que cada um de nós faz do outro. Venal, corrupto, pronto para cometer e aceitar deslizes. Ninguém é de ninguém. Já não há respeito pelas pessoas, pelo patrimônio alheio, pela condição física ou moral de quem quer que seja.
Tudo o que existe é um amontoado de regras para serem burladas. Tudo inútil.
Para que serve nosso Legislativo? Para criar leis injustas que servem mais a quem as produz do que á nação. Para que serve nosso judiciário? Para julgar e condenar pobres e negros, vítimas de um Estado violento e desumano, que lhes rouba a vida e os sonhos e a esperança.  Para que serve nosso Executivo?   Para construir horda de dependentes financeiros, súditos cegos e moucos, incapazes perceberem a ruína diante dos seus pés. Além disso, fomenta a institucionalização do quarto poder: a corrupção. Sim. A corrupção no Brasil deixou de ser um desvio de conduta e transformou-se em uma grande instituição com interesses financeiros próprios, com métodos de trabalho lógicos e inteligentes, com informantes, e funcionários ocupando cargos hierárquicos em todo o território nacional.
O poder dessa instituição é tão grande e tão bem distribuído que conseguem burlar ou modificar as leis de acordo com suas necessidades. Para isso valem-se hábeis advogados, do dinheiro farto que muda de mãos com rapidez, dos acordos políticos, da mídia que lhes dá espaço sempre que necessário, do “marketing” pessoal e até da letra fria da lei, que garante imunidade a muitos desses corruptos, e inesgotável direito de defesa. Tudo é tão bem amarrado que mesmo quando há uma condenação os recursos jurídicos colocam os réus em liberdade. E a partir desse momento acontece a inversão dos fatos. Os réus transformam-se em vítimas e usam a lei a seu favor.
De norte a sul do Brasil é isso que vemos. O poder da corrupção estabeleceu-se e ramificou-se. Não importa se o Estado é pequeno ou grande, se a cidade é insignificante ou poderosa, se é bairro elegante ou uma favela.  A corrupção está presente em todo lugar. Na rua que moramos ou passamos, lá está ela com seus tentáculos estendidos pronta a auferir alguma vantagem. Seus agentes vestem sempre os mesmos disfarces: de gente boa que quer ajudar mesmo que para isso precise burlar a lei.
E, assim vamos vivendo. Uma propina aqui, um jeitinho ali, uma facilidade que não causará dano a ninguém e, no final das contas, todos pagam alto preço.

De modo sorrateiro e paternalista a corrupção ocupou seus espaços e transformou-se em poder absoluto. No atual Estado brasileiro é quase impossível realizar qualquer tarefa em tempo razoável, sem valer-se dos agentes da corrupção. E nós estamos nos acostumando a conviver com essa realidade.
Suportar um Estado corrupto e corruptor está modificando nossos conceitos primários. Estamos deixando de ser cidadãos conscientes para sermos público de um espetáculo circense pobre e leviano, sem conteúdo, cujo único objetivo é manter a platéia alheia à realidade dura e cotidiana que está prestes a roubar-lhe a vida.
Essa grande nação está a um passo da desmoralização total. Se no passado fomos chamados de “país não sério”, imagino hoje, com a institucionalização da corrupção como poder nacional. E ainda assim estamos rindo e aplaudindo, felizes feito crianças diante do brinquedo novo.
O que está acontecendo conosco? 



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