DOIS MUNDOS, DUAS VIRTUDES


Ultimamente, temos assistido diariamente noticiários a exposição de personagens políticos e de fatos relevantes nos cenários nacional e estadual.  
Tivemos o caso Palloci dominando as manchetes por um bom tempo. Em seguida, vieram os bombeiros militares do RJ com suas justas reivindicações e seu ato de desespero (a tomada do quartel central da corporação) por uma remuneração menos indigna, por condições de trabalho condizentes com a função e objetivo da instituição. Agora temos nos jornais a exposição do “calcanhar de Aquiles” do governador Sergio Cabral com a divulgação na mídia de suas relações com empresários que são também beneficiários de contratos com o Estado do Rio de janeiro e grandes doadores de sua campanha política no ano de 2010.
Todo esse enredo nos leva a uma pergunta óbvia: porque tanta voracidade em conquistar e manter o poder em tão poucas mãos?
A resposta, por mais simples que seja não fica tão óbvia quanto a pergunta, porque ela está escondida por detrás das aparências, dos sorrisos melodramáticos, dos rostos bem cuidados, dos gestos calculados para aparecer nas fotos dos jornais e nas reportagens de TV. Mas ela é curta: a ganância.
O poder seduz de tal maneira que para ele tudo que esteja fora do seu círculo, não existe. E, para se manter incólume qualquer arma é legítima. Assim compreendido, o poder que delegamos aos nossos governantes e legisladores tem nos transformado em escravos das suas paixões, dos seus vícios, da sua luxúria, da sua arrogância, do seu desprezo.
Os escândalos estão se tornando para nós “estórias de faz-de-conta”:  assistimos e parece que estão muito distantes da nossa realidade. Isso porque o mundo onde eles acontecem não é o nosso mundo. Estamos acostumados a lidar com a miséria, com a pobreza, com a dor, com a lama das ruas, com os ônibus cheios e os trens lotados, com as balas perdidas, com o chão dos hospitais, com o descaso e os abusos de autoridades, com as escolas sem condições físicas e sem professores para ensinarem aos nossos filhos o conhecimento necessário a sua vida em sociedade.
Em nosso mundo as contas giram em torno de alguns reais; quando as contas passam de mil reais já nos assustamos. Nada comparado aos vinte milhões que um homem pode ganhar em poucos dias, nada comparado aos mais de um milhão da reforma do maracanã, nada comparado aos mais de vinte bilhões que serão gastos nos preparativos da copa do mundo! E nós lecionamos corrupção nas escolas da FIFA!  
Como o Brasil é rico! Podemos pensar. Então, porque será que somos tão pobres? Como construíram esse outro mundo onde todos são celebridades? Esse mundo particular que vemos na televisão e que nos parece irreal, como uma novela bem elaborada com personagens magníficos, com carrões, aviões, iates, roupas caras importadas, mulheres que parecem feitas sob medida, sorrisos de pura porcelana?   
Esse mundo ao qual não temos acesso é construído e mantido com o nosso dinheiro. Cada centavo desses milhões, desses bilhões sai do suor dos nossos rostos, dos nossos lombos feridos de carregar o peso dos anos de labuta honesta para alimentar uma “casta de governantes” que nos vê como cães famintos e rejeitados, indignos de sua atenção.
Somos nada para eles. Cada um de nós lhes parece similares a peças de uma engrenagem na produção das suas riquezas. Quando enfraquecemos e ficamos impossibilitados para o trabalho somos substituídos e relegados à própria sorte como se fazia com os leprosos no passado.  

O nosso mundo é particular e singelo, feito de coisas explícitas e visíveis. O brasileiro comum tem começo meio e fim como qualquer pessoa ou caminho, sem atalhos secretos, sem atos secretos. Então, como compreender e combater agentes que usam de ardis, de subterfúgio, de métodos incompreensíveis para a maioria de nós? Essas pessoas nos parecem muito acima de nós. São como deuses aos quais tudo é permitido, mesmo nos infligir pesadas cargas tributárias e penalidades severas quando não podemos pagar as obrigações fiscais. Nós os amamos na felicidade e nos comovemos com suas palavras e gestos. Aceitamos suas explicações sobre as dificuldades para nos “abençoar” com uma ruazinha asfaltada, ou um carro de polícia para circular pelo bairro. Compreendemos como é difícil erguer um hospital e pagar aos bombeiros e professores um salário melhor. Sim, porque nós, o povo, somos homens de carne e osso e podemos compreender qualquer coisa. Sangramos diariamente sob o peso das injustiças contra nós perpetradas e, quando aparecemos nos jornais e TV’s é por causa de alguma desgraça que bateu  a nossa porta. Essa é a única ocasião em que somos notícia; logo somos esquecidos. Afinal, ninguém quer ver rostos sofridos e lágrimas reais na tela da TV. Diferentemente “deles” que estão na mídia todos os dias sob os mais diversos pretextos.
Esses dois mundos coexistem pacificamente mesmo sendo seus habitantes tão diferentes na aparência, no vestuário, no comportamento, no valor que dão ao que chamam de “status social”, no aspecto físico das suas comunidades, na quantidade de bens que possuem e principalmente no tipo de trabalho que exercem. Em um dos mundos as pessoas laboram arduamente para construir uma moradia simples e comprar um veículo à prestação. No outro, trabalhar é uma punição pela incapacidade de construir laços de amizade que se traduzam em vantagens pessoais e fortuna.
Em um dos mundos a virtude é a moral e seus habitantes são chamados trabalhadores. No outro a virtude é a corrupção e seus habitantes são chamados “elite”.  
Com diz o velho ditado: ”Onde há fumaça há fogo”.

Até quando vamos suportar a afronta dessa gente que se coloca acima de nós, acima do direito, acima da lei?
“Podem escravizar nossos corpos e confiscar nossos bens; mas não podem apagar a chama da liberdade que arde em nosso peito!”. Carlos Gama/2006

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