NOITES DISTINTAS

Você dorme

Descansa feliz no berço de costumes hereditários

Lençóis de seda, travesseiros de algodão lhe acariciam

Não sabe que lá fora existem marquises

Calçadas, almas solitárias

Que sem cobertores, sem colchões

Revolvem-se na noite fria.

“São restolho”, você pensa

Se deles alguém lhe fala.

E são, na verdade.

Trapos humanos, restos da vida...

O brilho do sol não os afeta

Tampouco o luxo da sua sala

Tudo quanto possuem são:

Moscas teimosas, chagas pruridas.

Vem não se sabe de onde

Como chegam, quem poderá dizer?

Apenas estão nas ruas

De nossa – bela?- cidade

Comprometendo o turismo

Vivendo sabe Deus por quê!

Você, abrigado da chuva

Do frio vento da madrugada

Não percebe sequer que

Batendo palmas a sua porta

Com mãos ossudas, faminta, as carnes laceradas

Implora abrigo uma figura tétrica

Pobre alma morta!



A noite passa tranqüila e a manhã desponta

Para o mísero mendigo encolhido na sarjeta

Não importa se é dia ou noite agora

De onde veio, para onde vai

Se você deita ou levanta.

Para ele abriram a porta de uma nova era

Sem sol, sem lua...

É numa rua sem marquises, sem chuva e sem frio.

Nela a paz é para todos os viajantes

E por toda a vida.

O medo da noite não mais existe.

É um caminho luzidio, silencioso

Como a própria morte que o abriga

Sem sede, sem fome, sem feridas

Sobretudo,

Sem a dor aguda da sua indiferença.

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