O CORONELISMO MODERNO E O CORONELISMO URBANO





Podemos encontrar nos livros de historia do Brasil fartas referências a um período republicano onde a figura dos coronéis era de grande importância política. Eles eram proprietários de terras, senhores de engenho, pessoas de grande influencia regional e que guardavam estreitos laços com o poder publico. Controlavam os habitantes das “suas” cidades e das áreas vizinhas usando, muitas vezes a forca e a coação psicológica para obriga-los a votar nos candidatos que apadrinhavam ou que indicavam. Tamanha era a autoridade desses homens que os governadores faziam “vista grossa” para os seus abusos e desmandos dentro das suas áreas de dominação de tal modo que muitas vezes a palavra de um deles era a lei mais presente na sociedade local. Havia conflitos de interesse entre coronéis. Mas, de modo geral firmavam acordos que mantinha alguma estabilidade política regional. Quando não havia consenso as questões eram resolvidas pelos jagunços e pistoleiros que matavam o desafeto e expulsava os remanescentes da família.

Esse tipo de dominação marcou época nos primeiros anos da nossa historia republicana porque os governadores precisavam dos coronéis para eleger seus correligionários e os coronéis precisavam dos governadores para manter sob controle o poder local e sua própria influencia. Assim, era comum ver filhos, sobrinhos, netos sucedendo os pais, os tios, os avós na vida publica para prolongar o processo. Os votos sempre eram comprados, com empregos, doação de terra, doação de remédio, de comida, de vestuário e mesmo dinheiro em espécie. Nenhuma possibilidade era desprezada. Todos os esforços eram validos e os resultados garantidos.

Hoje, a figura dos coronéis (declarados) se restringe às paginas dos livros e aos registros documentais nacionais. Entretanto, podemos encontrar em muitos dos nossos estados, em muitas das nossas cidades pessoas que agem como os antigos coronéis usando de todos os meios possíveis para dominar, para influenciar, para manter nas suas mãos e nas dos seus familiares o poder político. De norte a sul do Brasil, de leste a oeste, vamos encontrar o filho, a esposa, o sobrinho ou qualquer outro parente de políticos exercendo cargo eletivo ou publico.

Como e por que isso acontece?

A resposta e simples: o uso do sobrenome político é garantia de voto ou de indicação para cargos comissionados. Esse modelo de participação na vida publica faz surgir entre nós verdadeiros clãs que dominam e gerem com mão de ferro o campo político brasileiro impedindo a renovação das Câmaras e Assembléias Legislativas e do próprio Congresso Nacional. E por isso que hoje carecemos de pessoas de expressão para concorrer aos cargos eletivos nas cidades, nos estados e no país. A maioria dos nossos políticos estão na vida pública há vinte, trinta ou mais anos e já colocaram seus filhos e netos para perpetuarem seu poder.

Desse modo não há mudança de pensamento, de ideologia, porque os filhos, no geral seguem a linha política dos pais, dos seus mentores para não deixar os benefícios conseguidos escaparem do seu círculo de influência.

No Brasil atual existem municípios e estados onde o poder político é exercido por famílias que se alternam no governo. Existem famílias que tem deputados, prefeitos, vereadores e ate senadores. Ou sejam, estão presentes em todos os setores da vida pública dominando e concentrando o poder cada vez mais.

Isso impede a renovação política porque essas famílias também dominam o poder político dentro dos partidos. Assim, interferem no processo de escolha dos candidatos aglutinando mais poder e segregando quem se posiciona contra.

O exercício político é direito de todos e essa concentração de poder em mãos de famílias faz surgir o que chamo aqui de modernos coronéis que são aqueles que agem mais no interior do país. Os que estão presentes nas grandes cidades chamo de coronéis urbanos. Ambos empregam os mesmos métodos de troca de favores, de manipulação do eleitorado e o paternalismo. Ambos tem uma imagem pública e outra privada que usam com maestria, dependendo da necessidade ou da câmera de TV que os esteja filmando. Nisso diferem dos antigos coronéis, homens cujo caráter e conduta eram postos a público para forjar o respeito pretendido. Os coronéis dos nossos dias são demagogos e dissimulados, mais inclinados ao discurso do que a ação.

O povo brasileiro precisa se dar conta de que nossas cidades e nossos estados estão sendo transformados em “grandes propriedades” onde algumas famílias mandam e todos os demais se submetem. Isso não é democracia.

O poder público não pode ser dominado por grupos familiares, pois assim corremos o risco de ver o que pertence a todos ser tratado como coisa particular. Alem disso, há a possibilidade de aumento da corrupção, das leis serem cada vez mais injustas (por serem feitas em benefício de uns poucos) e da justiça social ficar mais longe do povo.

O cidadão brasileiro precisa ficar atento. Os grupos familiares estão se multiplicando na política brasileira com uma rapidez impressionante. Seguindo nessa velocidade dentro em pouco não teremos mais pessoas nos cargos públicos e sim famílias.

Agora reflitamos: se já é difícil tirar um corrupto do poder, muito mais ainda será tentar retirar todo um grupo familiar, não é mesmo?

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