CIDADE SITIADA



Os acontecimentos dos últimos dias deixam no ar uma pergunta: Para onde vamos?
Refletir sobre essa indagação tem sido um exercício diário para grande parte da população do nosso estado. E não adiantam as promessas dos políticos, os comerciais sobre a conquista das olimpíadas para a cidade do Rio de Janeiro, as inúmeras entrevistas do secretário de segurança pública (ou de insegurança pública) e do governador. O cidadão do RJ quer justiça e paz. Justiça que garanta os direitos comuns a todos, que julgue os infratores com equidade, e paz para trabalhar e construir o futuro que, hoje mais que nunca, nos parece incerto.
Não basta enviar helicópteros, homens e fuzis às favelas e atirar contra traficantes de drogas, não basta prender, matar, punir os delinqüentes. É preciso mais que isso!
É preciso plantar no seio da sociedade fluminense e brasileira a semente da confiança no Estado, na justiça, nos poderes instituídos. E, como se pode conseguir tal coisa sem expurgar as câmaras de vereadores, as assembléias legislativas e o Congresso Nacional desse ranço de corrupção e impunidade com o qual convivemos há décadas?
É mito fácil falar em enfrentamento, em crescimento, em desenvolvimento. Difícil é conseguir que o cidadão pagador de impostos e instituição maior dessa nação continue vivo e acreditando em futuro. A violência está batendo à porta de qualquer um de nós. E não somente nas grandes cidades, mas até em médias e pequenas cidades do interior do Estado e do país.
Tudo isso é resultado do descaso com que a segurança pública é tratada no Brasil há muitos anos. Não é só porque existem favelas que existe trafico de drogas e traficantes. Mas as favelas são um reduto inexpugnável para quem vive de atividades criminosas; pois são construídas, geralmente, em morros e o posicionamento dos barracos e casas formam vielas de difícil acesso para os próprios moradores, quanto mais para a força policial. Entretanto, não haveria favelas se o poder público, na pessoa dos prefeitos e vereadores tivesse o cuidado de ordenar o crescimento urbano promovendo o surgimento de bairros residenciais organizados e servidos dos meios assistenciais necessários a qualquer pessoa que pretenda uma vida digna.
Mas, as favelas estão aí.
E as armas grosso calibre, como chegam às mãos dos traficantes no alto do morro?
Aqui no Estado do Rio não produzimos tais armamentos. Certamente ele é trazido através das fronteiras internacionais por terra, mar ou ar. E quem tem obrigação de combater o tráfico de armas é a polícia federal e o ministério da justiça. Ou seja, o governo federal. E temos visto isso? Se houvesse uma vigilância efetiva nas fronteiras brasileiras e rigor na aplicação das leis não veríamos tantos fuzís e metralhadoras nas mãos dos bandidos cariocas.
Portanto, a violência é fruto do descaso e inoperância das três esferas do poder público brasileiro. E nenhuma ação coercitiva que não seja planejada minuciosamente, que não seja apoiada por ações estratégicas do governo com políticas de reeducação da população juvenil, ressocialização daqueles que tem perspectiva de deixar a criminalidade, redistribuição de rendas, amparo ao trabalhador para que ele tenha condições de dar aos seus filhos um lar estável, escolas com turno integral para oferecer as crianças e adolescentes atividades cívicas e extra classe, repito: nenhuma ação que não seja nesse nível poderá dar resultados efetivos. Poderá sim nos dar muito mais mortos e render muitas páginas no noticiário para nossos pretensos líderes.
E para onde vamos?
Nenhum de nós sabe a resposta.
Estamos vivendo um período da nossa história caracterizado pelo fenômeno da duplicidade. Isso mesmo: existem dois paises dentro de um só, existem duas realidades dentro do mesmo país, existem duas realidades dentro do Rio de Janeiro, existem duas caras na maioria dos nossos políticos. Somente assim se explica a euforia de um grupo de pessoas que parecem viver em um mundo paralelo. Uma gente que parece não perceber o caos estabelecido, que parece não se importar com o sofrimento diário de milhões de cidadãos, apavorados e desnorteados com a violência, com degradação da vida urbana.
Para onde vamos?
Será que ainda há esperança de futuro para nós?

FRASES SOLTAS

"Viver é exercitar o amor, quotidianamente, em tudo o que fazemos".

"É preciso conhecer o passado, trabalhar o presente e planejar o futuro. Sem isso, não há esperança para a humanidade".

O CORONELISMO MODERNO E O CORONELISMO URBANO





Podemos encontrar nos livros de historia do Brasil fartas referências a um período republicano onde a figura dos coronéis era de grande importância política. Eles eram proprietários de terras, senhores de engenho, pessoas de grande influencia regional e que guardavam estreitos laços com o poder publico. Controlavam os habitantes das “suas” cidades e das áreas vizinhas usando, muitas vezes a forca e a coação psicológica para obriga-los a votar nos candidatos que apadrinhavam ou que indicavam. Tamanha era a autoridade desses homens que os governadores faziam “vista grossa” para os seus abusos e desmandos dentro das suas áreas de dominação de tal modo que muitas vezes a palavra de um deles era a lei mais presente na sociedade local. Havia conflitos de interesse entre coronéis. Mas, de modo geral firmavam acordos que mantinha alguma estabilidade política regional. Quando não havia consenso as questões eram resolvidas pelos jagunços e pistoleiros que matavam o desafeto e expulsava os remanescentes da família.

Esse tipo de dominação marcou época nos primeiros anos da nossa historia republicana porque os governadores precisavam dos coronéis para eleger seus correligionários e os coronéis precisavam dos governadores para manter sob controle o poder local e sua própria influencia. Assim, era comum ver filhos, sobrinhos, netos sucedendo os pais, os tios, os avós na vida publica para prolongar o processo. Os votos sempre eram comprados, com empregos, doação de terra, doação de remédio, de comida, de vestuário e mesmo dinheiro em espécie. Nenhuma possibilidade era desprezada. Todos os esforços eram validos e os resultados garantidos.

Hoje, a figura dos coronéis (declarados) se restringe às paginas dos livros e aos registros documentais nacionais. Entretanto, podemos encontrar em muitos dos nossos estados, em muitas das nossas cidades pessoas que agem como os antigos coronéis usando de todos os meios possíveis para dominar, para influenciar, para manter nas suas mãos e nas dos seus familiares o poder político. De norte a sul do Brasil, de leste a oeste, vamos encontrar o filho, a esposa, o sobrinho ou qualquer outro parente de políticos exercendo cargo eletivo ou publico.

Como e por que isso acontece?

A resposta e simples: o uso do sobrenome político é garantia de voto ou de indicação para cargos comissionados. Esse modelo de participação na vida publica faz surgir entre nós verdadeiros clãs que dominam e gerem com mão de ferro o campo político brasileiro impedindo a renovação das Câmaras e Assembléias Legislativas e do próprio Congresso Nacional. E por isso que hoje carecemos de pessoas de expressão para concorrer aos cargos eletivos nas cidades, nos estados e no país. A maioria dos nossos políticos estão na vida pública há vinte, trinta ou mais anos e já colocaram seus filhos e netos para perpetuarem seu poder.

Desse modo não há mudança de pensamento, de ideologia, porque os filhos, no geral seguem a linha política dos pais, dos seus mentores para não deixar os benefícios conseguidos escaparem do seu círculo de influência.

No Brasil atual existem municípios e estados onde o poder político é exercido por famílias que se alternam no governo. Existem famílias que tem deputados, prefeitos, vereadores e ate senadores. Ou sejam, estão presentes em todos os setores da vida pública dominando e concentrando o poder cada vez mais.

Isso impede a renovação política porque essas famílias também dominam o poder político dentro dos partidos. Assim, interferem no processo de escolha dos candidatos aglutinando mais poder e segregando quem se posiciona contra.

O exercício político é direito de todos e essa concentração de poder em mãos de famílias faz surgir o que chamo aqui de modernos coronéis que são aqueles que agem mais no interior do país. Os que estão presentes nas grandes cidades chamo de coronéis urbanos. Ambos empregam os mesmos métodos de troca de favores, de manipulação do eleitorado e o paternalismo. Ambos tem uma imagem pública e outra privada que usam com maestria, dependendo da necessidade ou da câmera de TV que os esteja filmando. Nisso diferem dos antigos coronéis, homens cujo caráter e conduta eram postos a público para forjar o respeito pretendido. Os coronéis dos nossos dias são demagogos e dissimulados, mais inclinados ao discurso do que a ação.

O povo brasileiro precisa se dar conta de que nossas cidades e nossos estados estão sendo transformados em “grandes propriedades” onde algumas famílias mandam e todos os demais se submetem. Isso não é democracia.

O poder público não pode ser dominado por grupos familiares, pois assim corremos o risco de ver o que pertence a todos ser tratado como coisa particular. Alem disso, há a possibilidade de aumento da corrupção, das leis serem cada vez mais injustas (por serem feitas em benefício de uns poucos) e da justiça social ficar mais longe do povo.

O cidadão brasileiro precisa ficar atento. Os grupos familiares estão se multiplicando na política brasileira com uma rapidez impressionante. Seguindo nessa velocidade dentro em pouco não teremos mais pessoas nos cargos públicos e sim famílias.

Agora reflitamos: se já é difícil tirar um corrupto do poder, muito mais ainda será tentar retirar todo um grupo familiar, não é mesmo?

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